O que é mais importante, talento ou técnica literária? Há anos, esta não é mais uma pergunta que me faço, pois estou focado em buscar minha voz artística.
Neste artigo, vou oferecer a você um pouco da visão de Jan Fries sobre o assunto (e por que é fundamental para todo escritor). Tudo isso, extraído do maravilhoso livro Mágicka visual, que despertou em mim uma série de reflexões sobre a escrita.
Vejamos o que um artista visual e magista pode ensinar a nós escritores.
Continue lendo para ver sobre:
- Do que falamos quando falamos sobre talento
- A importância de libertar seu self subconsciente
- Caminhos para a libertação da voz artística
Do que falamos quando falamos sobre talento

Curiosamente, “talento” era o nome dado a uma moeda grega. Logo, a pessoa talentosa era aquela que dispunha de muitos recursos monetários.
Em tempos atuais, a palavra remete a alguém dotado de uma aptidão excepcional para determinada tarefa. Por exemplo, os mais bem sucedidos esportistas, artistas, engenheiros etc.
Entretanto, Jan Fries no livro já citado vai além.
Ele divide a arte como o movimento entre os extremos, cujos limites seriam o “self consciente” e o “self subconsciente”.
O que é o self consciente?

Fries usa uma definição que para mim expressa com precisão o que é o ato de aprender a técnica literária.
Ele afirma que no self consciente, podemos:
“[…] aprender a ver e desenhar por meio de observação e prática. Este é um aspecto do artista que se desenvolve nas escolas de arte, fazendo exercícios de perspectiva, paisagem, retrato, nus etc., com o objetivo de desenvolver a habilidade de ver, desenhar e reproduzir formas.”
O exemplo do autor se refere à arte visual, mas pensemos na escrita.
Como poderíamos afirmar que a escrita é um “talento natural” se ninguém nasce sabendo escrever?
Ao sermos alfabetizados, adquirimos esta técnica de nos exprimir por palavras escritas.
Então, ao resolvermos ser escritores, passamos a aprender as técnicas de escrita criativa — que nada mais são do que princípios utilizados por grandes escritores no decorrer dos séculos — como ao fazer um curso tal qual o CAMINHO DO ESCRITOR.
Logo, com nosso self consciente adquirindo estas habilidades, pomo-nos a escrever histórias, mas… de onde elas vêm?
E o que é self subconsciente?


Se você escreve, certamente teve algum momento em que se sentiu “inspirado”, certo?
Bom, este momento catártico é o que Jan Fries chama de self subconsciente em ação, que se expressa em:
“erupções dinâmicas de total criatividade, pouco se importando com convenções ou controle. Este aspecto do artista é desenvolvido pelo sonhar, pela vida selvagem, e pela derrubada das restrições.”
Ou seja, são os instantes que o talento aparece com sua maior força. Contudo, não se engane. A melhor forma de extrair o maior potencial de si é aliar o talento ao conhecimento das técnicas de escrita.
Como o autor afirma:
“Em uma boa obra de arte, os dois aspectos estão equilibrados. O self subconsciente provê o poder e a vida; o self consciente dá forma ao todo, que faz sentido para o observador.”
A importância de libertar seu self subconsciente


Quanta energia desperdiçamos em nosso dia a dia?
São inúmeras discussões inúteis, notícias que serão esquecidas logo após serem lidas e distrações nas internet que não nos agregam nada.
Agora pondere quanto tempo você dedica a se conectar com o seu eu interior, sua mente profunda, ao autoconhecimento?
Se sua resposta foi “nenhum”, eu questiono: então como poderá criar algo novo, fazer realmente uso do seu talento, se você não se ouve?
Como afirma o autor, o “self subconsciente, aliás, não tem que ser treinado, e sim libertado”.
Neste processo, cuidado! O ego pode ser seu maior inimigo.
Vejo muitos escritores se deixando levar por elogios ou críticas como se seus mundos fossem desmoronar a partir disso, produtos de um ego frágil.
Eles mesmo se autodestroem, como Jan Fries exemplifica:
“[seu ego] pode comparar o seu trabalho com o de “artistas de verdade”, ignorando constantemente o fato de que eles tiveram exatamente os mesmos problemas que você tem. […] Por este motivo eu sempre finjo que a coisa toda é “só uma brincadeira […]” (pg. 50).
Saiba apenas que esta não é sua voz artística. Trata-se de uma parte de você com a qual precisa se resolver e alcançar equilíbro. Nestes casos, às vezes, fazer terapia é algo sempre bem-vindo.
Afinal, se o ego do artista é grande demais, trata-se de um problema, pois de tão expansivo, não permite que ele veja seus defeitos. E se for frágil, não deixará com que siga em frente, autorizando a influência de fatores externos, que o destroem com facilidade.
Então, como ouvir a voz artística, aquela que vem da mente profunda, do self subconsciente?
Caminhos para a libertação da voz artística


Diz a lenda que na entrada do santuário de Delfos, na Grécia, estava escrita a frase de Sócrates:
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.
E eu diria que não há tarefa mais importante ou difícil para o escritor, do que conhecer a si mesmo.
Não há uma fórmula que se possa ensinar, descrevendo o passo a passo feito uma receita de bolo. Cada um terá sua jornada e deverá buscar seu caminho para este autoconhecimento.
***
Já contei minha história aqui no site, logo no início, mas o que quero contar a seguir não foi incluso neste primeiro texto. Talvez na época, não estivesse pronto para falar sobre o assunto.
De maneira muito resumida, vou explicar o que eu, Vilto Reis, tenho feito. A começar, por cada vez mais buscar aprender e praticar meditação e visualização.
Meu interesse no assunto começou ao ler o livro Em águas profundas: criatividade e meditação, do diretor de cinema David Lynch, um artista que gosto muito. Posteriormente a esta leitura, busquei outras obras que agregaram mais conhecimento ao assunto, além da prática, que é o mais essencial.
Outro elemento fundamental na minha jornada tem sido os exercícios físicos diários. A disciplina de nosso corpo material nos ajuda a alcançar partes mentais inacessíveis de outras formas.
Mais recentemente, o estudo de algumas matérias pouco convencionais, como a alquimia e os processos de divinação, têm auxiliado nesta trajetória.
E antes que se abra a caixa de preconceitos, é válido dizer que você não precisa deixar sua religião para praticar qualquer uma dessas coisas que falei. Nem mesmo acreditar. Muitos ateus e céticos se beneficiam destas práticas, que nada têm a ver com atividades religiosas.
Enfim, como comentei, não há um caminho único, mas se autoconhecer deve ser o ponto de chegada para quem busca despertar sua voz artística.
***
Conclusão
A técnica serve para potencializar o talento, sendo que a primeira você pode treinar e desenvolver, enquanto a segunda deve ser descoberta dentro de si.
Não há uma ou outra mais importante.
Um artista que privilegie uma delas em detrimento da outra provavelmente será incompleto. Ou melhor dizendo, incapaz de prover uma arte, seja literária ou não, que impacte as emoções de outra pessoa.
Para finalizar, deixo para reflexão mais um excerto do livro já amplamente citado de Jan Fries:
“A arte lhe dá uma oportunidade de se resolver com ela. Não feche seus olhos: confronte os demônios que você criou. Você consegue aprender a olhar para eles sem medo ou asco? As pessoas que só procuram por beleza e harmonia restringem-se mais do que elas imaginam. Se você der corpo aos seus horrores, pode ser que você se cure. Se você os negar, todo o seu ser sofrerá. Não se censure. A arte não precisa ser bela, o que importa é que ela seja viva. Restrinja um aspecto sequer da sua arte, e logo toda ela estagnará.” (pg. 55).
E o que você acha?
Conte nos comentários o que achou deste conteúdo :)
Entendo que a arte é Pessoal, Ela pode surgir de várias formas, as vezes independentes do próprio artista. Os talentos vão sempre existir. É sim importante encontrar um equilíbrio para que nada se perca .
Perfeito!
Obrigado, Hugo 🙂