Diálogos na ficção são o equivalente do escritor ao canivete suíço.
Que outra ferramenta de contar histórias permite que você revele personagens, avance no enredo, estabeleça o cenário e entregue um tema, tudo ao mesmo tempo?
Um diálogo bem escrito é uma leitura rápida e fácil. Assegure-se de que as conversas com os personagens em sua história continuem efetivas na fase de edição:
1. Diálogo estático
É importante ler os diálogos na ficção em voz alta durante a edição, porque as palavras que você coloca na boca do seu personagem precisam soar naturais e espontâneas voltando.
Ao mesmo tempo, ao contrário das pessoas reais que muitas vezes gaguejam e se repetem ao conversar, espera-se que os personagens fictícios “falem editados”. Aqui estão dois culpados em particular que fazem o diálogo parecer duro e ensaiado:
Conversa de rádio: no auge do drama de rádio, os roteiristas apimentaram o diálogo dos atores com detalhes narrativos para ajudar o ouvinte a visualizar cada cena com mais clareza. Por exemplo:
“Lucinda, por que você está levantando esse martelo sobre sua cabeça?”
Ao ler o manuscrito, remova ou revise os discursos em que um personagem está atuando como narrador.
Nomeação desnecessária: a menos que haja uma boa razão para fazê-lo, incluir o nome da pessoa a quem se dirige também pode fazer os diálogos na ficção soarem inexpressivos. Veja só:
“Parabéns pela sua promoção, Bob.”
“Obrigado, Janice.”
“Você está planejando comemorar com sua esposa, Bob?”
“Sim, Janice. Vamos sair para jantar.”
Ao ler as cenas de diálogo, fique atento a nomes excessivos ou desnecessários e corte-os.
2. Diálogo insignificante
As conversas da vida real geralmente começam com trocas como: “Como vão as coisas? Será que chove hoje?”.
Usamos a conversa fiada como forma de dissipar o desconforto inicial, ou de “sondar” a outra pessoa antes de levantar assuntos mais delicados ou importantes.
Ao editar seu manuscrito, considere se há algum propósito dramático verdadeiro para seus personagens se envolverem em conversa fiada (trair nervosismo, por exemplo). Se o preâmbulo for insignificante, remova-o e deixe os oradores irem direto ao assunto.
Da mesma forma, procure discursos que recapitulem coisas já conhecidas de todos os personagens da cena. Se o falante não tem nada de novo a dizer (ou perguntar ou revelar) sobre o evento passado que está sendo lembrado, então a referência tal como está é insignificante para a história. Ou coloca-se para trabalhar movendo as coisas para a frente ou exclui-se.
3. Diálogo repetitivo
Discursos de diálogos na ficção precisam ser editados com o mesmo rigor que qualquer outra parte de uma história, especialmente quando se trata de “cortar a gordura” eliminando repetições desnecessárias.
Leia cada discurso em voz alta; palavras repetidas e ecos de ideias vão aparecer em você.
Por exemplo: “Ele foi eleito por unanimidade. Todos votaram nele.” (A segunda frase é um eco e pode ser excluída.)
Às vezes, cenas inteiras são repetidas em diálogo, por um personagem que experimentou um evento em uma parte anterior da história e passa a descrevê-lo em detalhes para outro personagem mais tarde. Se a cena foi mostrada ao leitor e essa revisitação não revela nada de novo sobre o falante ou o ouvinte, então o narrador pode resumir em uma frase: “Ele contou a Lawrence o que havia acontecido no cais”.
4. Diálogo nu
Em toda conversa da vida real, há um subtexto subjacente comunicado por pistas não ditas.
O estado de espírito e a confiabilidade de cada orador são revelados por coisas como a postura do orador, ações físicas, expressões faciais e tom de voz. Para dar vida a uma cena escrita de diálogos na ficção, você precisa visualizar e comunicar um subtexto que o leitor possa imaginar.
Enquanto algumas falas contêm seu próprio subtexto (“Ei! Afaste-se do meu carro!”), outras não. Portanto, ao editar seu manuscrito, procure por discursos ‘nus’ que precisem de um ou mais dos seguintes:
Palavras-chaves descritivas ou verbos dicendi (ele disse, ela insistiu, eles fizeram coro), para ajudar o leitor a acompanhar quem está falando e revelar a maneira de falar de um personagem quando as palavras por si só não implicam. (“Eu não vou entrar lá”, Jerry murmurou.)
As ações de um locutor, quando contradizem ou reforçam as palavras ditas, ou quando ajudam o leitor a imaginar a cena com mais facilidade. (“Eu não vou entrar lá”, Jerry murmurou, seu lábio inferior deslizando em um beicinho.)
Pensamentos de um orador, quando o orador é o personagem do ponto de vista e a informação ajuda a aprofundar a compreensão do leitor sobre o personagem ou a cena. (Isso não era uma sorveteria – era um consultório odontológico! “Eu não vou entrar lá”, Jerry murmurou, seu lábio inferior deslizando em um beicinho.)
As impressões sensoriais de um falante, quando o falante é o personagem do ponto de vista e a informação ajuda a estabelecer o cenário e o estado de espírito do falante ou presença física nele. (A broca na sala ao lado parecia faminta. A pele de Jerry começou a arrepiar. “Eu não vou entrar lá”, ele murmurou, seu lábio inferior deslizando em um beicinho.)
5. Diálogo exagerado
Verbos dicendi são ‘verbos falantes’ que descrevem a voz de um personagem. Porque tendem a ‘cortar’ uma cena de diálogo, eles devem ser usados com moderação, principalmente quando há probabilidade de haver confusão sobre qual orador está dizendo o quê, ou como o palavras soam.
Ao editar seu manuscrito, procure por verbos dicendi que podem ser removidos sem diminuir a eficácia da cena, principalmente aqueles que repetem o conteúdo das palavras ditas. Procure também por aqueles que descrevem ações em vez de vozes.
Compare os seguintes exemplos:
“Mas por que me sinto tão miserável?”, ela fez uma careta infeliz.
Jenny fez uma careta. “Mas por que me sinto tão miserável?”, ela exigiu.
Os diálogos na ficção não são apenas uma ferramenta útil, mas são um componente importante de uma narrativa eficaz. O tempo que você investir na edição e polimento renderá dividendos generosos mais tarde.
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Texto traduzido e adpatado do site Writer’s Digest.