Há quem chame Edgar Allan Poe de o pai da narrativa fantástica contemporânea. Isso sem falar que ele inventou o gênero policial. Usou suspense como ninguém. E revitalizou o terror. Imagine ele em uma oficina literária!
Mas pouca gente sabe que Poe era um editor muito aplicado. Inclusive com suas próprias obras. O que nos leva a pensar: como seria tê-lo como professor? Como se sairia em cursos para escritores?
Neste artigo, você vai conhecer o método de escrita de Edgar Allan Poe. Ou melhor dizendo, como ele planejou e escreveu sua obra-prima, o poema O corvo. E ainda, para descontrair, uma breve ideia de como seria o mestre ministrando uma oficina literária por Skype.
Antes vamos falar um pouco sobre a vida deste autor.
Você sabia que a morte dele até hoje é um mistério? Isso que chamo de autor de suspense.
7 Fatos curiosos sobre a vida de Edgar Alan Poe
1 – Órfão
Nascido em Boston, em 1809, Edgar Allan Poe perdeu a mãe aos 3 anos de idade. E foi criado por John Allan, um comerciante de Richmond, de quem herdou o segundo nome.
2 – Mais um escritor viciado em jogos
No mesmo ano em que ingressou na Universidade de Virgínia, 1826, perdeu dois mil dólares em jogos. Seu pai adotivo se recusou a pagar a dívida. Acabou tirando Poe da Universidade.
3 – Recebeu mesada até os 21 anos
Seu padrasto descobriu uma carta de Poe. Nela ele dizia que “O Sr. A. não se encontra muito frequentemente sóbrio.” Allan acabou cortando suas relações e, pior, a mesada de Poe. Quando ele já tinha 21 anos.
4 – Participou de concursos e prêmios literários
Com 24 anos, Poe apresentou um conjunto de contos em um concurso patrocinado pelo Baltimore Saturday Visiter. A coletânea era intitulada The Tales of the Folio Club e nunca foi publicada. Mas um dos contos ali presentes, MS. Found in a Bottle, renderia ao autor no futuro um prêmio de 50 dólares. E em junho de 1843, The Gold Bug (O escaravelho de ouro) ganhou um prêmio de cem dólares, o que o levou a ser amplamente reimpresso.
5 – Casou com sua prima, sendo ela menor de idade
Isso mesmo, em 1836, Edgar Allan Poe casou-se publicamente com Virgínia Clemm, que ainda não completou quatorze anos. Onze anos depois, ainda jovem, Virgínia morreu. Poe entrou em depressão profunda e se entregou a embriaguez.
6 – Fracassou como empresário
Várias vezes, o escritor tentou tocar uma revista literária própria. Uma delas foi a The Stylus. Não conseguiu o financiamento necessário e foi a falência.
7 – Sua morte, seu maior mistério
No ano em que faleceu, 1849, Poe foi a Baltimore e se entregou ao álcool. Cerca de um mês depois de sua chegada, foi encontrado delirante em frente ao local em que funcionava uma seção eleitoral, no dia três de outubro, após alguns dias desaparecido. Quatro dias depois, morreu de congestão cerebral – uma lesão do cérebro, provavelmente complicada por uma inflamação intestinal, um coração enfraquecido e diabetes.
Onde estava Poe nos dias em que desapareceu? A pergunta fica no ar. E se você quiser ler mais sobre a vida dele, recomendo este ótimo artigo do site Homo Literatus:
O legado de Edgar Allan Poe
Mas vamos nos concentrar nas dicas que ele deixou em A filosofia da composição.
Dicas de Edgar Allan Poe sobre como escrever (dignas de uma oficina literária)
Em A filosofia da composição, Edgar Allan Poe se dedica a explicar o processo de composição de sua obra mais famosa, o poema O Corvo.
Ele teoriza a respeito da estrutura poética aplicada. Logo podemos identificar ao decorrer do ensaio uma série de “dicas” para quem deseja escrever literatura. É uma verdadeira oficina literária com este grande escritor.
Vamos a elas!
Não tenha medo de falar sobre o que você escreve
No começo do ensaio A filosofia da composição, Edgar Allan Poe fala sobre a vaidade literária. Até sua época, nenhum autor havia publicado em alguma revista a forma como planejou sua composição literária.
Você não precisa de inspiração para escrever!
O escritor também questionou a inspiração. Ele diz que os escritores preferem manter a ideia de que compõem por “meio de uma espécie de sutil frenesi.”
Fala também que eles tremeriam na base se o público olhasse por traz das cortinas. Ou seja, saber tudo sobre como eles escrevem.
– “[…] os disfarces postiços que, em noventa e nove por cento dos casos, constituem a característica do histrião literário”.
O tamanho ideal para uma obra literária
Poe sempre levou muito a sério o sentido de urgência de um texto. Escritores iniciantes costumam se alongar em detalhes que não levam a nada. E Poe ainda recomenda que a obra possa ser lida em “uma sentada”, veja:
“Se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma assentada, devemos resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois, se requerem duas assentadas, os negócios do mundo interferem e tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente destruído”.
Imagine se ele conhecesse o mundo com smartphones.
Crie contrastes em sua escrita
Contrastes são essenciais para criar imagens na mente do leitor. O escritor ressalta que colocou a noite como tempestuosa para: “[…] explicar por que o Corvo procurava entrar e, em segundo lugar, para efeito de contraste com a serenidade (física) que reinava dentro do quarto”.
Ele afirma ainda que posicionou o pássaro sobre o busto de minerva por causa das cores. O contraste entre o branco e o preto, o mármore e a plumagem. Cada detalhe é planejado para provocar o máximo de sensações possíveis.
Entenda a relação de espaço, emoções e personagens
Poe afirma que enquanto compunha a estrutura do poema, questionou-se como faria para juntar o amante e o corvo num mesmo ambiente. A sugestão mais natural seria uma floresta.
“[…] mas sempre me pareceu que uma circunscrição fechada do espaço é absolutamente necessária para o efeito do incidente insulado e tem a força de uma moldura para um quadro”.
Pouco antes do trecho, o escritor teorizou sobre a beleza. Definiu-a como a única verdadeira tese poética. E na sequência explica que o quarto é apresentado como “ricamente mobiliado”, para que ele seja uma continuidade da teoria.
Pense e planeje sua escrita
Antes de começar, Poe decidiu que o poema teria 100 versos. Considerou todas as questões citadas acima. Em outras palavras, uniu o racional ao emocional para compor uma grande obra!
“É meu desígnio tornar manifesto que nenhum ponto de sua composição se refere ao acaso, ou à intuição, que o trabalho caminhou, passo a passo, até completar-se, com a precisão e a sequencia rígida de um problema matemático”.
Conclusão: como seria uma oficina literária com Edgar Allan Poe por Skype
Meia hora atrasado, Poe chama os alunos no Skype para a oficina literária. Esconde a garrafinha de uísque no bolso enquanto os primeiros começam a atender. Seu terno preto está amarrotado e remendado. O cabelo parecendo um ninho.
Os alunos ficam sérios. Tensos pelo que estar por vir.
Edgar Allan Poe passa a discorrer sobre as dificuldades da escrita. Perto de tornar o encontro um desabafo, conta uma história. É sobre grupos de pessoas que se formam ao seu redor em alguns lugares. Só que ninguém tem coragem de pedir um autógrafo ou se aproximar.
Até que um menino aponta para Poe e pergunta ao pai, “por que o cabelo daquele tio cresceu na boca?”
Após se recuperar das risadas, entra no assunto. É um professor aplicado. Exibe seu conhecimento técnico. Cita inúmeros livros. Mostra todo o seu pragmatismo para criar. Até o ponto em que passa a ditar as regras da sua escrita.
[Todas citadas acima].
Mas faz uma ressalva. Estas regras se aplicam apenas a mim. Cada um deve encontrar as suas.
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E aí, qual sua dica preferida? O que você imagina que Poe faria nesta oficina?
Me conte!
o que você achou deste conteúdo?
Amei o artigo! Eu como fã do Poe foi muito divertido imaginar ele dando aula por skype. As dicas foram muito boas também. Conheci seu site faz pouco tempo, mas já estou viciada haha anotando tudo. Obrigada.
Haha. Valeu, Jenifer!
Você tem uma imaginação e tanto, hemn?!? Assim, ele parece bem contemporâneo.