Save the cat é uma estrutura de roteiro de 15 passos muito utilizada em Hollywood.
Aqui no Brasil, ela ainda não é tão conhecida como a Jornada do Herói ou a Estrutura de Três Atos, mas talvez seja questão de tempo.
Fato é que seu criador, Blake Snyder, foi um roteirista de sucesso, utilizando este esquema. Nos anos 90, ele vendeu mais de doze roteiros, alguns por mais de um milhão de dólares.
Tudo começou em um dia que Snyder estava caminhando em Hollywood quando percebeu um padrão para os roteiros que estava vendendo. Ele notou uma estrutura que funcionava tanto com os executivos quanto com o público.
A partir desta epifania, o autor escreveu o Save the cat e o publicou em 2005. O livro foi um best-seller instantâneo com várias reedições.
Mas o que a estrutura proposta por Blake Snyder tem de tão especial?
Continue lendo este artigo para descobrir.
Por que Save the cat (salve o gato)?
Em síntese, é uma referência aos antigos programas de TV e quadrinhos. Porque era uma constante que ao se precisar demonstrar ao público que determinado personagem era o mocinho, por quem deveriam torcer, ele fazia uma boa-ação.
Como salvar o gato.
A expressão também veio do filme Aliens, da cena em que Ripley salva o gato. O que, obviamente, faz com o que ela conquiste a atenção e simpatia do público.
Esta atenção foi expandida por Snyder em quinze beats.
(Não vamos traduzir beats de forma literal, pois seria algo como “batida” em português. Pensemos neles como “pontos de trama”).
Vejamos como eles funcionam.
O que são os pontos de trama na estrutura Save the Cat?
Blake Snyder afirmou que histórias são sobre transformações. A sequência que ele propôs reflete as mudanças e movimentos narrativos.
Antes de examinarmos os beats, ou “pontos de trama”, devemos lembrar que ele projetou a estrutura Save the cat pensando em um roteiro de cinema de 110 páginas. Portanto, os números após os subtítulos refletem este formato.
Nada impede, porém, que você adapte para a criação de uma trama literária ou de quadrinhos.
Vejamos então quais são os 15 pontos de trama:
- Imagem de abertura (1): como sua história começa? O que estamos olhando?
- Tema declarado (5): qual é a força motriz por trás de sua história?
- Configuração (1-10): conheça os personagens, entenda o que está em jogo, viva no mundo.
- Catalisador (12): o que acontece para mudar o curso dos eventos normais?
- Debate (12-25): é aqui que o personagem decide fazer algo a respeito. A pressão aumenta.
- Quebra para o Segundo Ato (25): a decisão de agir é tomada e a história começa.
- História B (30): o que mais está acontecendo? Alguma outra história que estamos seguindo?
- Diversão e jogos (30-55): você cumpre a “promessa da premissa”. Todas as cenas de exploração e admiração que se enquadram no gênero da sua história.
- Ponto médio (55): as coisas mudam. Você tem o mesmo objetivo, mas uma nova maneira de chegar lá.
- Antagonistas próximos (55-75): seu objetivo é ofuscado pela jornada do antagonista para derrotá-lo.
- Tudo está perdido (75): justamente quando você pensa que pode vencê-los, seu personagem sofre sua maior derrota.
- Noite escura da alma (75-85): seu protagonista quer desistir. Tudo deu errado.
- Quebra para o terceiro ato (85): algo volta ou acontece e convence seu personagem a seguir em frente.
- Finale (85-110): nas últimas páginas, vemos tudo o que os personagens estão dispostos a fazer para vencer essa luta.
- Imagem final (110): como a abertura, esta é a última coisa vista. Dê-nos uma imagem que resuma a história.
Em síntese, estes são os 15 pontos de trama que todas as histórias devem ter se quiserem emocionar o público e os financiadores do projeto, segundo Blake Snyder.
Interessante, não?
Devo utilizar ou não usar a estrutura Save the cat?
Além das citadas Jornada do Herói, do Campbel, e da clássica Estrutura de Três Atos, vemos que Save the cat é muito semelhante à Jornada do Escritor, proposta por Vogler.
O que muda, principalmente, é a linguagem como é apresentada.
A meu ver, aí está a grande sacada do Blake Snyder. A forma didática como ele entrega a “fórmula” a quem deseja escrever.
Talvez você esteja se perguntando: mas essas estruturas não tornam minha história muito quadradinha?
Depende.
Se você souber criar em cima dela, liberando sua criatividade sem se tornar escravo, não vejo problema em usar.
Eu mesmo costumo aplicar minhas histórias na Estrutura de Três Atos, mas vai de cada um.
Obviamente, se você deseja escrever um livro em que o foco seja a linguagem e não o roteiro, é provável que esta estrutura seja totalmente descartável.
Pois como Blake Snyder deixa bem explícito sobre o livro:
“Nós, e esperamos que você, estamos no negócio de tentar vender nossos produtos para as grandes empresas, fazer uma grande venda e atrair o maior público possível. Queremos um sucesso — e uma sequência, se pudermos! Por que jogar o jogo se você não bate na cerca? E embora eu ame o mundo Indie, quero bater de frente no mundo dos grandes estúdios. É por isso que este livro é principalmente para aqueles que desejam dominar o mercado de filmes convencionais.”
Em resumo, use se você pensa que isso pode potencializar suas ideias.
Uma coisa eu posso afirmar: planejar a história é a melhor coisa para não sofrer de bloqueio criativo. Recomendo isso a todos os meus alunos.
Foi publicado Save the cat em português?
Mesmo diante da incessante busca no Google dos aspirantes a escritores pelos livros de Blake Snyder, nenhuma editora brasileira publicou qualquer obra dele. O que é uma pena, pois muita gente tem dificuldade de ler em inglês.
Caso este não seja uma problema para você, recomendo que conheça a série produzida pelo roteirista:
- Save the Cat!: The Last Book on Screenwriting You’ll
- Save the Cat! Strikes Back: More Trouble for Screenwriters to Get Into… and Out of
- Save the Cat Goes to the Movies: The Screenwriter’s Guide to Every Story Ever Told
- Save the Cat! Blake’s Blogs: More Information and Inspiration for Writers
Por fim, espero que este texto possa servir, ao menos, para apresentar as ideias do autor.
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E então, gostou desta estrutura? Você usaria? O que pensa a respeito?
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Me conte!
o que você achou deste conteúdo?
Vilto, vamos traduzir esses livros?
Pense nesse projeto e fale comigo 😉
Oi, Juliana.
Se você tem interesse, acho que valeria à pena entrar em contato com os detentores dos direitos do autor, depois procurar algum livro que publique manuais de roteiro. Mas não sei como eu poderia ajudar, afinal não sou mais sócio na editora 🙂
Eu achei ótimo! Dotado de uma linguagem didática simples e muito mais fácil de montar um enredo.
Que bom que gostou, Salete. Fico feliz pelo seu feedback. Se puder, assine nossa newsletter para receber mais conteúdos como este ou entre em meu grupo de Telegram: http://t.me/viltoreis
Acho que a melhor coisa a ser feita é se identificar com uma das ideias e a ela ser fiel; assim, o escritor cria suas características e se mantém “num auto-padrão” evitando não ter identidade ao escrever.
Gosto da estrutura dos três atos!
😉
Concordo, Oliver. Isso é fundamental!
Amei agora tenho certeza de que minha história está boa valeu Vilto😄
Bacana! Boa escrita!