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Teste de Bechdel — Como saber se suas personagens femininas são verossímeis

Vilto Reis
Escrito por Vilto Reis em 2 de fevereiro de 2021
Teste de Bechdel — Como saber se suas personagens femininas são verossímeis
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Nascido de uma piada, o Teste de Bechdel (em inglês, Bechdel Test) pode ajudar você a verificar se as personagens da sua história são verossímeis ou não.

Porque ao desenvolver uma narrativa você pode ter se questionado sobre suas personagens.

Será que elas parecem pessoas reais?

E se não se perguntou, preciso te dizer: a literatura, o cinema, os quadrinhos e outros tipos de histórias estão repletos de personagens femininas estereotipadas ou artificiais.

Segundo o Site da Academia Internacional de Cinema, a Investigação sobre o Impacto da representação de gênero no cinema e na televisão brasileira, pesquisa do Instituto Geena Davis feita em 2016, aponta que 73% dos brasileiros acreditam que filmes e programas televisivos mostram as mulheres de maneira exageradamente sexualizadas.

Estamos no século XXI e está na hora de evitarmos este tipo de coisa.

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Por isso, vamos conhecer o Teste de Bechdel e acabarmos com isso, combinado?

Quem é Alison Bechdel, a criadora do teste?

Alison Bechdel, criadora do Teste de Bechdel, retratada enquanto trabalha em seu estúdio no castelo de Civitella Ranieri, região central da Itália, em 2014.
Alison Bechdel, criadora do Teste de Bechdel, retratada enquanto trabalha em seu estúdio no castelo de Civitella Ranieri, região central da Itália, em 2014.

Alison Bechdel é uma cartunista americana, nascida na Pensilvânia em 1960.

Aos 19 anos se assumiu lésbica, um elemento central em sua arte. “O objetivo subversivo secreto do meu trabalho é mostrar que as mulheres, não apenas lésbicas, são seres humanos normais”, segundo ela.

Ela se formou em artes de estúdio e história da arte em 1981, no Oberlin College.

Dois anos depois, publicou sua primeira tira em 1983 no WomaNews, um jornal feminista. Uma série de tiras veio a seguir, intituladas Dykes to Watch Out For. Em uma tradução livre: Sapatões para se tomar cuidado.

Posteriormente, ela viria a publicar algumas graphic novels.

No Brasil, temos publicado dela: Fun Home — Uma tragicomédia em família  e Você é minha mãe? — Um drama em quadrinhos.

Mas afinal, por que há um teste com o nome dela? 

O que é o Teste de Bechdel?

Basicamente, o teste verifica se a obra narrativa (não importa a mídia) apresenta participações femininas convincentes e verossímeis ou não.

Ou seja, se a participação das mulheres é relevante para o enredo ou mero acessório que só serve para cumprir uma cota.

Spoiler: a maioria das obras não passa no teste.

As três perguntas simples para fazer esta avaliação são:

  • A história tem duas ou mais personagens femininas que são nomeadas?
  • Elas conversam entre si?
  • O assunto da conversa é algo que não seja sobre homens ou assuntos românticos?

Bacana, mas de onde veio isso?

Qual a origem do Teste de Bechdel?

O Teste de Bechdel surgiu na tirinha The Rule, publicada em 1985

As perguntas do Teste de Bechdel vieram a público em 1985, por meio de uma tira de Alison Bechdel. 

A autora ironizava nesta tira a forma como, na indústria hollywoodiana, a maioria das mulheres era representada de forma estereotipada e clichê.

É válido dizer que a autora creditou a ideia do teste a sua amiga e parceira de Karate, Liz Wallace. E acrescentou ainda que, provavelmente, inspirada pelo ensaio Um teto todo seu, de Virginia Woolf.

Em entrevista ao site Hypeness, a cartunista revelou que o Teste de Bechdel não foi criado para ser declarado como uma métrica para as pessoas.

Alison Bechdel confessou que:

“Foi meio que uma piada entre mim e minhas amigas nos anos 1980. As feministas com quem eu saía naquela época e eu nos sentíamos ignoradas pela cultura, porque ela era dedicada a homens brancos e héteros. E nós fazíamos piadas a respeito de como não tínhamos filmes com mulheres que se parecessem com pessoas verdadeiras, que falassem umas com as outras.”

Quando perguntada se as coisas mudaram desde então, ela disse que “mudaram em um nível bastante notável.” Há muito mais obras com protagonistas ou personagens femininas relevantes para o enredo.

No entanto, Alison Bechdel manteve a humildade ao ser perguntada como se sentia ao ver seu nome associado ao teste. 

“Sinto que não é completamente aleatório ver isso esteja ligado ao meu nome. Eu me importo de verdade com a subjetividade feminina e este tem sido um dos focos do meu trabalho, mas eu não me responsabilizo por isso.”

Tudo bem, mas por que usar o teste?

Considerações finais ou há necessidade de usar o teste?

É evidente que temos muito a evoluir enquanto sociedade, mas as histórias influenciam nossa cultura na mesma medida em que são influenciadas por ela. 

Portanto, por que não utilizar uma ferramenta como o Teste de Bechdel?

Será que aquela personagem feminina não está ali para cumprir funções narrativas, como a Jornada do Herói, de Joseph Campbell, parece sugerir?

Aliás, foi justamente isso que Maureen Murdock questionou ao criar a Jornada da Heroína.

Muitas narrativas até têm personagens femininas, mas elas nunca são nomeadas. Se são, não têm qualquer relação entre si (são pontos de parada e encontro feito objetos na trajetória do protagonista). Caso tenham alguma relação, elas gastam linhas ou cenas falando de algum homem, reproduzindo algum estereótipo fútil etc. Se não estão falando de homens, o assunto gira em torno de alguma questão romântica.

É bem provável, aliás, que isso tenha ver com o que a pesquisa Presença Feminina no Audiovisual Brasileiro, de Debora Ivanov (2016), apontou. Entre obras de cinema, documentários, ficção, vídeo musical, variedades, animação e reality shows produzidos no Brasil:

  • 23% tiveram roteiristas femininas
  • 19% foram dirigidas por mulheres.

Podemos citar ainda a famosa pesquisa de Regina Dalcastagné sobre os romances brasileiros publicados em três períodos: de 1965 a 1979, de 1990 a 2004 e de 2005 a 2014. Foram 692 romances, escritos por 383 autores e publicados por grandes editoras. O supreendente, ou nem tanto, é que o perfil do romancista brasileiro se manteve o mesmo por cerca de 43 anos:

  • Homem
  • Branco
  • Classe média
  • Nascido no eixo Rio-São Paulo

Os narradores, protagonistas e coadjuvantes são na maioria homens, também brancos, de classe média, heterossexuais e moradores de grandes cidades.

Logo, se precisamos de uma sociedade mais igual, por que não contemplar nossas narrativas com igualdade?

Eis um caminho, o Teste de Bechdel.

***

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2 Replies to “Teste de Bechdel — Como saber se suas personagens femininas são verossímeis”

marcelo ap. de paula

Nossa 2021 !!! ….tá mais que na hora realmente de ter mulheres fortes , não necessariamente Lésbicas mas fortes no sentido interior , toda mulher é mulher , profissionais do cinema como Nicole Kidman que alias eu amo como atriz , interpretam diferentes personagens as vezes dando vazão mais ao romantismo como quando ela fez a personagem Satine , a cortesã do Bordel Frances Moulin Rouge , a cena que ela morre de tuberculose nos braços de Cristian o escritor pobre e seu único grande amor me faz chorar e olha que eu já assisti esse filme mil vezes e toda vez eu choro não pelo romantismo mas pela dor dilacerante do pobre escritor….romances melosos não estão na minha Lista com certeza… o conteúdo tem que ter força e tanto faz poderia ser dois homens ou duas mulheres mas quando tem um conteúdo abrasador aí sim é que está o verdadeiro sentido de tudo !!!!

Vilto Reis

Obrigado por comentar, Marcelo.
Penso que é um pouco problemático usar o termo “mulheres fortes”, afinal de contas ninguém usa “homem forte” para qualificar um personagem masculino, mas fora isso, estou de acordo.