Será que não falta em você a Verdadeira Vontade de escrever um livro?
Os anos passam. Você segue lendo, assistindo e consumindo narrativas.
Vez ou outra, fica indignado com o fim de uma série ou filme. Afirma que faria diferente.
Talvez tenha visto obras menos qualificadas do as que você poderia escrever, mas estão finalizadas e publicadas.
Começou várias histórias e não terminou, acumulando frustrações.
Por alguma razão, você não consegue ir adiante. Então, o que estaria faltando?
Continue lendo este artigo para descobrir.
Como saber se tenho a Verdadeira Vontade de escrever um livro?
Você já se perguntou se possui a Verdadeira Vontade de escrever um livro?
Simplesmente dizer que tem uma grande ideia, que sua história daria um livro ou que um dia pensa em escrever uma obra não se evidencia como Verdadeira Vontade de o fazê-lo.
Aliás, por que alguém escreveria um livro?
Em busca de fama e reconhecimento, riqueza e poder, compartilhar uma história ou ensinamentos à humanidade?
Na verdade, o porquê de alguém querer escrever um livro não influi se ele o fará ou não. Mas sim se ele deposita sua vontade nisso. Não se trata de uma questão moral, porém de intenção.
Para saber se tem a Verdadeira Vontade de escrever um livro, você pode se perguntar:
- O quão disposto estou a sacrificar meu tempo e energia para escrever um livro?
- Este ato é tão prioritário em minha vida que deixarei de passar tempo com as pessoas que amo para transformar ideias em palavras e escrever um livro?
- Sem escrever esta obra, parte da minha existência encontrará sentido?
- Trocarei os prazeres fugazes da vida pelas horas de labor da escrita?
A lista poderia ser maior, mas estas perguntas devem servir para fomentar a reflexão necessária em você.
Bukowski surge com um exemplo de vontade dirigida
Nas entrelinhas deste assunto, eu não poderia deixar de citar o poema Como ser um grande escritor, de Charles Bukowski, presente no livro O amor é um cão dos diabos:
e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem?
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você estásem mulheres
sem comida
sem esperançaentão você não está pronto.
Impossível ser mais específico. É necessário uma vontade interior para escrever.
Apesar de tudo isso, a escrita pode ser divertida? Com certeza, sim. O que não significa que deixará de custar um grande esforço de energia vital.
Para ir mais longe, é preciso caminhar mais, direcionando a vontade neste sentido. Assim, tornamo-nos grandes e, como diz a filósofa Lúcia Helena Galvão, “a pegada é do tamanho do caminhante.”
Contudo, a pergunta a seguir deve rondar sua mente desde o início do texto.
O que é a Verdadeira Vontade?
A expressão Verdadeira Vontade deriva dos escritos do inglês Aleister Crowley.
Ele acreditava que para além do ego e das vontades comuns, havia uma Verdadeira Vontade no ser humano. Esta Vontade seria como um propósito de vida, o qual com autoconhecimento poderia ser descoberto.
Em linhas gerais, é isso.
Deste modo, acredito que se escrever um livro não estiver de acordo com a Verdadeira Vontade do sujeito, dificilmente ele o fará.
Esta conversa me faz recordar de um exemplo.
Uma história do Buda
Em certa feita, um discípulo perguntou ao Buda:
— Mestre, por que o senhor não compartilha sua sabedoria com toda a humanidade?
Após alguns instantes de silêncio, o iluminado respondeu:
— Vá até aquela aldeia em que estivemos, bata de porta em porta e pergunte às pessoas o que elas querem. Diga que podem obter qualquer coisa. Depois me responda.
Um dia depois, o discípulo retornou de sua missão.
— E então? — perguntou o Buda.
— Alguns queriam riqueza, sexo, saúde ou o sucesso dos filhos. Ninguém, sabedoria.
O Buda apenas sorriu em resposta.
***
A primeira camada de interpretação desta história é simples. As pessoas não querem sabedoria.
No entanto, outra coisa fica evidente. Nenhum deles queria realmente obter as coisas que falaram. Do contrário, elas o teriam. Ou, ao menos, estariam no processo de alcançá-las. Dito de outro modo, alinhados com sua Verdadeira Vontade, atingiriam o objetivo determinado.
Você compreende a relação entre as coisas? Assim sendo, o que fazer?
De que maneira cristalizar esta Vontade?
Sempre que leio algo de Neil Gaiman, me sinto inspirado a escrever. No entanto, nada que ele tenha dito ou escrito me impactou tanto como um trecho de sua fala no discurso Faça boa arte.
Gaiman afirma que, aos 15 anos, fez uma lista com tudo que queria fazer: “escrever um romance para adultos, um livro infantil, uma revista em quadrinhos, um filme, gravar um audiobook, escrever um episódio de Dr. Who…”
Não era nenhum tipo de plano elaborado, como ele ressalta, mas certamente se alinhava com sua Verdadeira Vontade.
Às vezes, temos a ilusão de que pessoa X ou Y tem mais sorte do que nós. Elas até podem ter sido mais favorecidas por alguma questão social (infelizmente), mas isso não significa que aquela pessoa não tenha dedicado sua energia e, com afinco, atingido determinado estágio desejado. Acredite, invejar o sucesso dos outros é perda de tempo e energia, afinal cada indivíduo só compete consigo mesmo. O melhor a fazer é se dedicar ao autoconhecimento, à prática da técnica e ao contínuo e disciplinado exercício daquilo que se pretende fazer, buscando excelência.
Como já comentei aqui no site, a meditação pode ajudar muito neste processo. Esta atividade ajuda a melhorar o foco e a atenção, alcançar a disciplina, lidar com emoções e sentimentos negativos, entre outros benefícios. Do mesmo modo que os exercícios físicos ou a escrita, somente com a prática constante, os resultados aparecerão.
Mesmo assim, é válido nos fazermos uma última pergunta.
Será que você consegue escrever um livro?
Posso responder com toda a certeza, consegue, se evitar os comportamentos abaixo.
Não transfira a responsabilidade. Ou seja, não diga que precisa de motivação dos outros. A energia se encontra em você e, para encontrá-la, será necessário uma mineração tão apurada como a de quem busca o ouro.
De igual modo, não diga que é incapaz. Tem menos a ver com capacidade do que se pensa.
Do contrário, algumas pessoas semianalfabetas não teriam dado grandes contribuições para a humanidade. Sabedoria é diferente de erudição.
Também não podemos ancorar a possibilidade de escrever um livro na necessidade de talento ou dom, de ser genial, um dos mitos do romantismo que perdura até hoje.
Uma coisa é certa. Se for sua verdadeira vontade escrever um livro, ainda que tudo pareça conspirar contra, você o fará.
***
E então, você concorda? Não deixe de contribuir nos comentários com esta discussão!
Me conte!
o que você achou deste conteúdo?
Nota 💯. Texto e imagem alinhados. Bonitos de se ver. Verdades verdadeiras, ainda que haja muitas outras verdades. As vezes, é preciso sacodir a árvore para colher o fruto. Gostei!!
Obrigado, Elda.
Ah, sim, há outras verdades e verdades de verdades. Talvez sejam apenas alfabetos diferentes que mostrem aspectos de uma mesma coisa, mas quem poderá saber?
Gostei muito do artigo! A verdade é que a gente não pode deixar o fogo da paixão se apagar. Serve para as várias situações da vida. Isso que nos mantém firmes em nossa caminhada
Fico feliz que tenha gostado, Nathalie. De fato, tudo de que falei ali, também serve para a vida. E é fundamental se manter firme, sempre!
Esse texto é muito necessário.
Durante muito tempo fui um cemitério de ideias frustradas, e entre os motivos, estão preguiça, indisciplina, medo, autoestima baixa. Mas a imaginação não para e tudo se transforma em enredo, personagens, conflitos, reviravoltas, na minha cabeça. Não consigo evitar criar histórias. Acaba sendo mais forte que eu. A verdade é que sempre quis dar vida a todas elas por meio da escrita. Cheguei inclusive a escrever, mas tudo terminou na lixeira.
Vou lutar por isso e voltar a escrever.
Obrigado, Vilto…
Siga lutando, meu amigo, que você vai conseguir!
Vontade eu até tenho e gostaria muito de saber escrever. Publiquei 2 livros de contos mas acho que não sei mesmo escrever porque falta poesia naquilo que escrevo e sei ver essa parte.
Quando era jovem gostava de escrever, mas não podia porque tinha de trabalhar. Mais tarde – quase aos 60 anos – e com os filhos formados é que encontrei tempo. Mas como não vendi… E agora com quase 70… já não tenho ilusões.
Mas penso que todos que gostam de escrever – mesmo sabendo apenas rabiscar – que penso ser o meu caso – começam histórias que deixam a meio ou escrevem apenas algumas páginas e não continuam. Tenho bastantes nessa situação.
Gostaria de poder e saber escrever até ao fim dos meus dias mas acho que é uma missão impossível. Peço desculpa pela frase clichê. Adianto que não conhecia o seu site, li alguns artigos e alguns títulos e adorei. Vou voltar mais vezes. Parabéns pelo site, pelos bons artigos e por responder aos comentários, pois não são todos os donos de sites que respondem.
Acrescento que sou portuguesa.
Desejo-lhe um bom final de semana.
Olá, Maria.
Obrigado por compartilhar o seu depoimento por aqui.
O que fiquei pensando, enquanto lia suas palavras, é se não podemos encarar as coisas de modo mais leve. Escrever o melhor que podemos com a capacidade que temos, buscando sempre se aperfeiçoar, mas obtendo a satisfação de realizar o ato de escrever. Enfim, isso rende outro artigo.
Grande abraço e seja bem-vinda ao site.
Me encontrei nesse artigo…me reconheci ali…
Sim, posso escrever um livro. Na verdade, sempre pude…apenas abandonei a ideia por tanto tempo, que acabei esquecendo dela. Agora, mais madura, encontrei um novo objetivo e sentido para minha vida. Escrever me fez respirar de novo, me reencontrar.
Acho que posso te agradecer por esse texto…
Obrigado pela depoimento, Rosana. Espero que possa se encontrar na escrita deste livro!